Torcedor.

Torcedor azulino é um bicho engraçado.
Enxerga no esporte uma razão para viver.
Escolhe times como quem segue uma religião.
Elege ídolos com quem busca a devoção por um santo.
Missa toda quarta e domingo. Quarta e domingo.
A ida ao estádio é uma visita a um templo sagrado.
Hinos, gritos, cascas de amendoim.
Sorvetes de limão, apitos, aflição.
Todos de olho numa bola atrevida.
Que resolve na hora se explode na trave.
Ou faz com que estranhos se abracem.
Como melhores amigos.
O gol é um divisor de águas.
Deve-se saboreá-lo sem parcimônia.
Há os que saem correndo em disparada.
E se imaginam comemorando junto à torcida.
Alguns choram mesmo quando o tento é a favor.
E muitos ateus olham para o céu e agradecem.
Mas o futebol é uma montanha russa maldosa.
A eliminação no último minuto é uma catalepsia.
Difícil se mover diante de tal fatalidade.
A glória é vista tão de perto.
Que a miopia embaça a percepção do fracasso.
A derrota não é apenas um revés a mais.
Ou uma conquista a menos.
É um garoto que chora.
Descontroladamente.
Porque o castigo é muito grande.
Para quem ontem dormiu confiante.
E apenas sonhou ser campeão.

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